quinta-feira, 20 de março de 2014

Julgues, pois serás julgado

Sou observadora das pessoas. Sempre gostei de tentar desvendar o que faz as pessoas serem o que são e como são.

Longe de ter um conhecimento acadêmico que sustente minhas hipóteses, é a sensibilidade que me permite não errar nas avaliações que faço.

No início, não acreditava nisso, mas na medida em que fui amadurecendo (envelhecendo), percebi que fazia avaliações bastante acertadas a respeito das pessoas. O mais legal é que a vida, despretensiosamente, vai me dando as repostas, mesmo que seja depois de mais de duas décadas.

Geralmente, as respostas são muito mais rápidas, porque as pessoas falam as coisas, achando que quem está ouvindo saberá somente daquela versão exposta. Mas esquecem que podem estar contando uma história para quem viveu parte dela e sabe a realidade dos fatos.

Vou citar exemplos que me inspiram para este post, porque fazem parte do mesmo enredo: "Eu, a vítima". Esse "Eu" não sou eu.

Pessoa leva uma vida de merda. Nada parece dar certo. E essa pessoa insiste em culpar a sorte ou outras pessoas, mas jamais se dá conta do que “faz para merecer”. Aí o tempo passa, você acompanha a vida difícil que a pessoa tem, sente compaixão... 

Só que quando convive um pouco mais com ela. Pronto! Descobre que essa pessoa vive contando pequenas mentirinhas. E descobre isso, porque a mentira tem sim perna curta. Você descobre que essa pessoa não sente medo ou vergonha, aliás nem se incomoda de fazer uma dívida, sem ter a certeza de que poderá pagar. Você descobre também que essa pessoa não sente culpa ao trair, porque tudo é feito em nome do amor.

A vida tá uma merda por culpa dos outros! Puxa vida, será mesmo?

Em outra situação a pessoa começa uma carreira consciente de que está puxando o tapete de alguém, trabalha de um jeito bem meia boca, leva todas as vantagens que lhe são possíveis, não assume compromisso e, quando fracassa (porque quem não é competente não se estabelece mesmo), encontra outra pessoa (trouxa) para colocar a culpa pelo seu fracasso.

É interessante, pois ela acredita que é a vítima. Ela não se dá conta de que construiu uma vida toda sobre farsas e que, como a mentira, a farsa também é manca.

Numa outra cena de vida, posso encontrar um sujeito que só quer levar vantagem sempre: pagar menos, ganhar mais, pegar o melhor lugar, comer a melhor parte da comida, ultrapassar pelo acostamento... enfim, agir como se o sol nascesse somente para ele.

Ah, não pense você que me instalo numa varanda e fico só apontando o dedo no nariz das pessoas para acusa-las por suas hipocrisias. Longe disso, essa sensibilidade veio de dentro para fora. Começou comigo e em mim está instalada, apontando o dedo no meu próprio nariz, mostrando que reações eu tenho quando sou boa e quando sou má. E isso é bastante doloroso, apesar de revelador e de me dar a certeza de que sei quem eu sou, sem hipocrisias. 

E apesar de doloroso, vou dizer que é prazeroso, porque uma coisa é ter a consciência da sua capacidade de ser bom. Outra, bem diferente, é ter a consciência da sua capacidade de ser mau. E se dar conta disso, não gostar e mudar dá um prazer enorme. Porque, para mim, a máxima não julgues para não seres julgado fica bem melhor se mudada para: “julgues, pois serás julgado”.